Com pouca chuva na região, Pantanal avança para uma das secas mais graves da história
Os rios da Bacia do Rio Paraguai, na região do Pantanal, que abrange municípios de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, seguem em ritmo de descida e com cotas abaixo da média para o período, na maioria das estações. Em algumas localidades, os valores já estão entre as mínimas históricas, e o cenário tende a se agravar diante das previsões de baixo volume de chuvas. Os dados atualizados são apresentados no novo Boletim de Monitoramento Hidrológico divulgado, na quarta-feira (4), pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB).
Na estação de Barra do Bugres (MT), a última cota observada foi de 26 cm na quarta-feira (4), enquanto o esperado para o período é de 61 cm. O Rio Paraguai chegou a alcançar, no município, a marca de 25 cm na terça-feira (3) – a mínima da série histórica iniciada em 1966. Em Cáceres (MT), foi registrada a marca de 38 cm, mas a cota chegou a 35 cm no início da semana. Essa é a segunda mínima da história, maior apenas que o nível de 24 cm observado durante a seca de 2021.
Em Mato Grosso do Sul, Porto Murtinho registra 98 cm, a 7ª mínima da história. Ladário (MS), que é a estação de referência, chegou à cota de -21 cm, sendo que o esperado para o período seria de 3,55 m. Essa marca já é a 11ª mais baixa da história, mas com tendência de redução de níveis. O cenário em Ladário é semelhante ao observado nos anos mais secos da história e a cota mínima pode ser similar ao registrado em 2021, quando chegou a -60 cm, ou ao ano de 1964, quando o rio alcançou -61 cm.
“A descida tem sido em ritmo de 15 cm por semana, o que é acelerado, e, como não há previsão de chuvas para toda a região, a tendência é que a cota continue a baixar. A expectativa é que os níveis dos rios parem de baixar ao final de setembro, com as primeiras chuvas da estação chuvosa, caso elas de fato ocorram”, explica o pesquisador em geociências do SGB Marcus Suassuna. Ele ressalta que a normalização dos níveis vai depender de onde e em que volume ocorrerão as chuvas.
Os dados e projeções para os rios do Pantanal serão compartilhados pelo SGB nesta sexta-feira (6), durante reunião da Sala de Crise da Bacia do Alto Paraguai. Clique aqui para acompanhar o evento, promovido pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
O valor da cota abaixo de zero não significa a ausência de água no leito do rio. Esses níveis são definidos com base em medições históricas e considerações locais, sendo que, mesmo quando o rio registra valores negativos, em alguns casos ainda há uma profundidade significativa. No caso de Ladário, por exemplo, abaixo da cota zero, o Rio Paraguai ainda possui cerca de 5 metros de profundidade, conforme dados da Marinha.
Apoio aos municípios
A situação exige atenção contínua, tanto no monitoramento quanto na adoção de medidas para enfrentar os desafios impostos pela estiagem prolongada. Desde fevereiro, o SGB vem alertando para o cenário de seca no Pantanal, devido à redução de chuvas na região. Além de monitorar, o SGB também apoia os municípios com o Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS), em períodos de crises hídricas.
O SIAGAS é um repositório de poços perfurados no Brasil, e sua base tem mais de 371 mil cadastrados, com 14 mil na Região Centro-Oeste. Disponível para consulta pública, apresenta informações sobre fontes de águas subterrâneas. Desse modo, permite identificar poços dos quais seja possível extrair água para usos doméstico, industrial, para irrigação ou outras finalidades.
Esse é um projeto de grande importância para a gestão de políticas públicas, tanto em nível nacional como estadual e sub-regional.
Parceria
O monitoramento dos rios é realizado a partir de estações telemétricas e convencionais, que fazem parte da Rede Hidrometeorológica Nacional (RHN), coordenada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O SGB opera cerca de 80% das estações, gerando informações que apoiam os sistemas de prevenção de desastres, a gestão dos recursos hídricos e pesquisas.
As informações coletadas por equipamentos automáticos, ou a partir da observação por réguas linimétricas e pluviômetros, são disponibilizadas no Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH) e, em seguida, apresentadas na plataforma SACE. As informações são do Núcleo de Comunicação do Serviço Geológico do Brasil.
Foto: Gustavo Figuerôa/SOS Pantanal